26/01/2012

quebra-cabeças 10

pás
pés
P.I.S.
pós
pus

14/12/2011

quebra-cabeças 9

bala
bela
bila
bola
bula

P.S. segundo o Aurélio, bila é bolinha de gude no Ceará.

quebra-cabeças 8

para
pera
pirapora
pura

28/10/2011

prato novo

minha filha batizou um novo prato: escondidinho de sabugosa. ficamos na dúvida se vai mandioca ou milho. seja como for, sou fã de poesia infantil.

19/09/2011

robin hood

na aula de inglês, a professora iniciava um assunto que poderia virar peça de teatro com os alunos do sexto ano: contava as histórias de robin hood. depois das damas da corte, arcos e flechas, aventuras e cavalos em disparada a aula de literatura inglesa: as histórias de robin hood foram contadas primeiro nas baladas inglesas. de bate pronto, vários alunos mcs fazendo sons de beatbox e vários outros achando que era quase impossível ter balada naquela época. que confuso esse mundo...

26/08/2011

aula de geografia

geografia da américa. localizamos as rochosas, a serra madre, os apalaches, planalto das guianas, o brasileiro, os andes, baía de hudson, a califórnia, yucatán, flórida, estreito de bering, o caribe. falei da maior ilha do caribe, cuba. aluno levanta a mão e pergunta:
- professor, cuba é um país comunista?
- sim, é verdade, cuba é um país comunista. em breve estudaremos mais de perto as diferenças entre os países da américa.
pequena pausa, pequeno silêncio antes de voltar ao caderno.
- então quer dizer que todo mundo lá é vegetariano?
- ?

16/08/2011

carona

ela tem nove anos, vai de carona com a professora para casa.
- puxa vida, professora, como o seu carro está velho!
- pois é, é uma pena que eu não tenho mais dinheiro para comprar um carro novo...
- sabe, professora, meu pai tem um cartãozinho que ele coloca no banco e sai dinheiro. eu vou pedir para ele tirar um pouco para você.

quebra-cabeças 7

lado
ledo
lido
lodo
ludo

16/05/2011

dislexia

professora de sétimo ano, aula de história, renascimento. aluna disléxica copiando da lousa. professora escreve nomes de vários personagens da época, leonardo da vinci, michelangelo, galileu galilei e rainha victoria. aluna disléxica copia dois pedaços diversos da lousa e descobre a fantástica galinha victoria, importante personagem do renascimento.

05/05/2011

mare nostrum

neste último mês fiz época de roma com minha classe. fizemos escudos, sandálias de couro, as famosas caligae, espadas de madeira, os gládios, e marchamos nas formações militares do exército romano. forma de cunha, círculo, quadrado, tartaruga, recitamos o começo da eneida em latim, estudamos a monarquia, a república, só ficou faltando o império. demos também uma olhada pela geografia local, mares, alpes, apeninos (que alguns teimavam chamar de alpeninos). enfim, muitas coisas. e, no final da época, fiz uma prova bem elaborada. doze questões dissertativas.
- cada um faz a sua, não vale olhar na do colega.
primeira questão: localize geograficamente o mar mediterrâneo. sorrateiro, percebo um aluno tentando olhar a prova do outro e o repreendo. mais um tempinho e outra repreensão, mais eficaz. no resto da prova ele se concentra em seu trabalho e escreve sozinho. acho que foi só uma pequena tentação a que ele bravamente resistiu. depois de dias, quando pego o maço de provas para corrigir leio como resposta da primeira pergunta: "o mar mediterrâneo fica ao sul do pólo norte". chama muito minha atenção e continuo corrigindo as outras. umas dez provas depois, flagro a mesma resposta, checo os nomes dos espertinhos e percebo que realmente eles trocaram informações durante a prova. que coisa! e que cola mais sem noção!

04/05/2011

quebra-cabeças 6

obama
osama

problemas de saúde

falávamos da importância de nos alimentarmos a cada duas horas. disse que eu, especialmente, precisava me preocupar com o assunto pois minha pressão é baixa e se não como ela me abandona.
- lembram aquele dia na aula de matemática em que eu precisei me sentar e pedi que alguém buscasse um pouco de sal? pois é, meu problema de pressão.
- pois é, depressão é muito chato...

27/04/2011

quebra-cabeças 5

pala
pela
pila
pô-la
pula

praia

não sei por que surgiu o assunto na classe. meninas rindo de lado, meninos pensando de outro. uns constrangidos, outros nunca tinham pensado na ideia.
- meu irmão foi em uma na itália e viu duas velhas peladas...
nojo geral.
- professor, no brasil tem praia de budismo?

20/03/2011

concordância

meninos falam obrigado.
meninas falam obrigada.
meninas falam de nada.
meninos falam de nado?

01/01/2011

quatro marias e um miguel

um pequeno festejo natalino aqui em casa para uns amigos da classe do miguel e da maria, olhamos o céu, estrelado, quando uma das famílias ia embora. havia tempo que não víamos tantas estrelas por causa da excesso de nuvens. céu limpo, órion protegendo o cucuruto de nossas cabeças, guerreiro. miguel olha para o alto e diz:
-olha as três marias, olha como elas estão retinhas hoje.
realmente...

22/11/2010

quebra-cabeças 4

barra
berra
birra
borra
burra

08/11/2010

brincar: verbo intransitivo

certo dia perguntei a minha filha de que ela havia brincado na escola. parou, me olhou como se eu houvesse perguntado a maior asneira do mundo e me respondeu:
-eu brinquei de brincar, ué!
ela tinha quase quatro anos nessa época. e criança pequena brinca assim mesmo, de se esparramar pelo mundo, sem fronteiras e sem encrencas. quando têm por volta de cinco anos, começam a planejar as brincadeiras, brincar de bombeiro, de motorista de ônibus, de restaurante. as brincadeiras têm um planejar e uma montagem até mais importantes que o próprio brincar. planejar e montar a brincadeira é o barato. só que antes de descobrirem esta nova faceta das possibilidades de brincadeiras, elas passam um tempo meio pasmadas, entediadas, sem saber o que fazer. até que algum coleguinha a chama para planejar a brincadeira. só que algumas escolas interpretam esta pasmaceira como uma precoce maturidade escolar e enfiam o coitadinho na sala d aula para aprender a escrever e contar. quado na verdade deveriam se preocupar com a mudança da regência verbal do verbo brincar. por volta dos cinco anos ele passa de intransitivo para transitivo indireto.
-vamos brincar de quê?

05/10/2010

bichos de estimação

inventei de colocar quirera para atrair os pássaros aqui de casa. e o problema foi que atraí muitos por que moramos na mata. os jacus vieram e detonaram minhas violetas que estavam perto do prato de quirera. fiquei chateado por não poder ter pássaros soltos por perto (os jacus são muito grandes e desajeitados. peguei birra por causa das flores).

foi então que percebi que os meus bichos de estimação, a quem dedico tempo e carinho, são as minhocas do meu jardim, que alimento sempre na composteira e que me devolvem uma terra ótima.

anônimas minhocas, ainda bem. já pensou pet shop de minhoca? ainda bem que estou livre dessa.

obrigado, minhocas.

quebra-cabeças 3

ama
ema
ímã
omã
uma

quebra-cabeças 2

lado
ledo
lido
lodo
ludo

quebra-cabeças

aprendi em um livro do lewis carrol a parte que não se pode adaptar para o cinema de sua obra: quebra-cabeças literários.
que tal mudar uma letra a cada linha, achando palavras que existam na língua:

mala
mela
mila
mola
mula

sim
sem
nem
neo
não

neste segundo, mais complicado, o objetivo é encontrar duas palavras opostas, com o mesmo número de letras e trocar uma letra a cada linha.

03/10/2010

cupom fiscal

estava eu ensinando as maravilhas da civilização mesopotâmica, como as primeiras formas de escrita, as leis escritas, o trabalho todo com o barro cozido em forma de tijolo que possibilitou a construção dos zigurates (como a famosa torre de babel), as histórias de gilgamesh e enkidu com a minha clase de quinto ano waldorf.

fizemos um belo estudo da escrita cuneiforme, inclusive com as tabuinhas de barro e as cunhas.

mas qual foi minha grande dificuldade para lhes contar qual era o conteúdo de todas aquelas letras e números. enrolei-me, falando da transações comerciais, de controle de estoque de grãos, trocas e comércio. tudo para falar que 90 por cento das tabuinhas têm informações sobre trocas comerciais. são registros comerciais.

e então, o aluno salvador da pátria, poder de síntese novo em folha, sagacidade total:

-as tabuinhas de escrita cuneiforme são, tipo, uns cupons fiscais?

23/02/2010

a incrível cabeça humana

em uma época em que estudamos o corpo humano, falei de nossa cabeça, de como ela era dura por fora e mole por dentro, ao contrário de nossos membros. falei que ela tinha janelas para o mundo, por onde recebemos informações sonoras, auditivas, visuais, gustativas, por onde respiramos e falamos e mais uma porção de coisas.

os alunos se entusiasmaram e fizeram perguntas pertinentes mas duas foram intrigantes.

-professor, como enxergamos ao dormir se estamos com os olhos fechados?

-por que imaginamos melhor quando estamos com os olhos fechados?

professor de assobio

puxa vida, quanto tempo faz que eu não escrevo nada! que vergonha.

aconteceu que eu estava assobiando no pátio do colégio e uma criança, com seus sete anos, chegou bem perto de mim, sentou-se ao meu lado e ficou ouvindo meu assobio. terminando, perguntei se ele sabia assobiar e se os colegas, que estavam ali por perto, também sabiam. alguns assobiaram, orguhosos da façanha, alguns tentaram e não conseguiram, e outros, os ressabiados, nem tentaram. quando a coisa já ia perdendo a graça, a menina me pergunta:
-sabe quem me ensinou a assobiar?
- não, quem?
- outro dia eu estava na minha casa e apareceu uma lagarta. eu fui assoprar para ela sair dali e o assobio saiu.
e os ressabiados ficaram ainda mais intrigados com o mistério do assobio.

14/11/2008

vaca-kombi

estava indo para o colégio, levando meu filho, que tem cinco anos. distraído, dirigindo e sintonizando o programa raízes do brasil, de música caipira. ouvimos todo dia para chegar na escola. no meio da estrada ele me solta: -ola papai, uma vaca-kombi! olho para o lado vejo uma komboza dessas todas estropiadas. a dita era branca e toda manchada de massa. parecia uma vaca holandesa.

24/09/2008

o estudo da casa

nesta última época, estudamos a casa. vimos como o homem observou os animais para fazer sua casa, como as diferentes culturas constróem sua habitações e como são as partes da casa, a casa vista de cima, a planta baixa etc. tem sido bastante rico e as crianças gostam muito de ver as diferenças entre os castelos e as palafitas, as ocas e os iglus, as tendas do deserto e as cavernas. a cada tipo de moradia uma nova descoberta é feita e abre-se uma possibilidade para a casa que eles mesmos irão construir como maquete.

corrigindo os cadernos, não pude deixar de dar umas risadas com algumas frases malucas que apareceram, fruto de um pouco de distração de alguns alunos. algumas ganham um sentido dramático com a troca de apenas uma letra. poesia pura. seguem as frases malucas e ficam os desafios de tentar descobrir qual era o texto original que coloquei no quadro negro, que na nossa escola ainda é negro.

"O homem caía em busca de alimento, enquanto a mulher cuidava do fogo e das crianças."

"As palafitas são contrições feitas em lugares que têm muita água."

"As casas indignas são tão variadas quanto as tribos."

"Na maioria das fezes, os castelos são construídos em locais altos."

samambaia do matutu

17/08/2008

estimação

estávamos falando sobre animais outro dia. era um dia triste pois o titico, porquinho da índia, havia morrido durante as férias. além de bichos estávamos falando sobre a morte. o dono do titico tinha ido dormir e no dia seguinte não pode mais encontrá-lo. chamava, chamava e nada de ele vir, como de costume. depois de uns dias, o forte cheiro tomou conta da cozinha e a faxineira percebeu o corpo estendido no chão, debaixo da geladeira. funeral em caixa de sapato com direito a cova no jardim foram as últimas exéquias ao querido titico. não deixou filhos, deixou saudades.

enquanto a tristeza de um tomava conta do grupo, alguém teve a idéia de mudar de assunto (mas não muito) e começaram a falar sobre os outro animais de estimação que havia na classe. os tradicionais cachorro e gato têm uma fiel audiência, mas também há crianças que têm cabras, galinhas, patos, peixes e cachorros descomunais como o chico e o binu.

no meio daquele bicharada vira uma criança e pensativa dispara:

-professor, eu não tenho bicho de estimação. pára, pensa mais um pouco e completa:

-só aqueles mosquitinhos do banheiro.

03/08/2008

rezar

sempre rezei antes de dormir. das mais longínquas memórias que consigo resgatar, sempre está presente o ato solene de rezar antes de dormir. bem pequeno, minha mãe falava e eu repetia até que acabei decorando o pai nosso e a ave maria. um de cada antes de dormir, era assim que eu pegava no sono. demorou até eu perceber que não se rezava: "pai nosso, cristais no céu..." .

mas que era bem mais lindo isso era.

02/08/2008

homero

Sempre achei estranha aquela intensa fascinação das crianças do lugar onde moro por Homero. Não importa se chegam cansadas da escola, ou se estão no meio de uma brincadeira. A qualquer hora, páram o que estão fazendo e se lembram dele. Estejam no balanço, andando de skate na pequena ladeira ou jogando bola. Não há idade para gostar de Homero, sejam os mais velhos, sejam os mais novos que ainda têm as mães por perto, Homero é sempre uma presença em suas vidas, no lugar onde moro.
Meu pequeno filho, de dois anos, costuma brincar com as crianças no parquinho. É um pouco cedo para dizer se ele gosta ou não de Homero, mas com certeza ele já ouviu falar de seu nome e sabe de sua fama pela redondeza. Não há criança do bairro que não o conheça e tenha vívidas lembranças do velhinho.
Homero é um senhor de cabelos brancos, que mora no bloco 54 apartamento 13 terceiro andar. A janela de seu quarto fica bem em cima do parquinho. Ele joga balas pela janela de seu quarto para as crianças que brincam lá embaixo.

-Homero, joga um Bis!

O único problema é que ele cisma em fazer truques com o cigarro para os pequenos. Como enfiar o cigarro aceso na orelha. Ou na boca com a brasa para dentro. Por vezes os assusta empurrando a dentadura para fora com a língua.

-Homero, mostra a dentadura! gritam os maiores, quando ele desce.

21/07/2008

desajudei...

Ele brincava com seus cinco anos no quintal quando percebeu uma folha se mexendo no gramado. Ficou intrigado, parou o que estava fazendo e chegou mais perto. Era uma formiga cortadeira, vermelha, que carregava nas costas uma folha muito maior que seu tamanho. É do pingo de ouro que cresce ao lado, margeando o muro do vizinho, olhou. Mais perto ainda, quase encostando o rosto na grama, ele se compadeceu do esforço sobrenatural que o pequeno inseto fazia. Assoprou, imaginando um veleiro que deslizaria pelo tapete de grama verde. A folha se soltou da formiga, que mudou seu caminho,  voltando para pegar outra folha. M. ainda tentou colocar a folha nas costas da formiga mas ela relutou, como que fazendo birra e não pegou a folha. M. se levantou e  tristonhou:

-Eu fui tentar ajudar ela e acabei desajudando...

E voltou a brincar com seus cinco anos.

23/06/2008

roqueiro...

estou trabalhando com os alunos em uma época de profissões. começamos em grande estilo, estudando o ferreiro. tivemos a chance de visitar uma ferraria e cada aluno fez um espeto de churrasco, onde assou uma salsicha. o ferreiro é alemão e fala com tanto sotaque que poucas crianças entendem o que ele fala. o que em certos aspectos é até bom. afinal de contas fomos lá não para ficar ouvindo ele falar, e ele não falou tanto assim, mas para ver suas ferramentas e a atmosfera da coisa.

incrível foi a hora que ele acendeu o fogo. ohs e caras de espanto total. melhor ainda quando ele mergulhou uma barra de ferro incandescente no óleo queimado e ela ficou flamejando. inesquecível. depois de fazer três ferramentas e as crianças olharem sentadas (milagre da natureza) o ferreiro pegou uma por uma e fez um espeto de churrasco junto com eles. um por um, ele esquentou o ferro no fogo, martelou na bigorna e entortou o ferro até ele virar um espeto de churrasco. feito o espeto, cada um entrava na fila da salsicha, organizada pela mulher do ferreiro, espetava sua salsicha e assava seu churrasco.

depois, cantamos duas músicas para agradecê-lo e voltamos para o colégio.

mesmo sem o glamour da visita ao ferreiro, continuamos estudando as profissões: os transportadores, o padeiro, o pedreiro e todos os construtores e finalmente as profissões que nos vestem, que nos protegem deste frio danado.

começamos pela roupa em si. só que antes da roupa estar feita, alguém a fez, o alfaiate e as costureiras com máquina, agulha, linha, tesoura e todas suas ferramentas. antes deles, veio o tecelão, que teceu os tecidos com o tear. antes dele alguém fiou com a roca e o fuso, a fiandeira. antes dela, alguém plantou o algodão, o linho ou cuidou do bicho da seda ou dos carneiros.

em cada etapa do processo de produção falei de cada profissão e de suas ferramentas. foi rico.

na hora da cópia, um aluno me pergunta:

-como é mesmo o nome daquela pessoa que trabalha com a roca?

-roqueira, responde o engraçadinho de plantão. e caimos todos na risada.

11/06/2008

lição de casa

lição de casa do terceiro ano

segundo exercício: escreva uma frase com a palavra "enxada" e outra frase com a palavra "pá".
resposta: eu trabalhei com a pá. eu vi um pássarinho.

09/06/2008

saudades

um aluno interrompe a sua cópia, dá um breve suspiro, olha para cima, como se resgatasse algo do passado mais longínquo. parado, me olha com ternura. -professor, eu estou com saudades do lucas do segundo ano, nós brincávamos tanto... minha vez de suspirar. - a gente era tão amigo... suspiro de novo. - a gente até levava as mesmas cadernetas... saudades...

18/05/2008

mula sem cabeça

depois de falar sobre alguns personagens mitológicos do brasil, como o lobisomem, curupira, saci e outros, falamos um pouco sobre a mula sem cabeça. e vem um aluno e me pergunta como era o chifre da mula sem cabeça. peraí, a mula não tem chifre, muito menos a mula sem cabeça. e a classe cai na gargalhada.

17/05/2008

eu me demito

anteontem eu estava subindo para a sala dos professores quando me deparei com uma aluna de nove anos sentada em uma cadeira olhando para a parede, no canto. cheguei perto, ela me olhou e disparou:"eu me demito desta escola".

trabalho?

a classe quieta, todos alunos trabalhando, cada um fazendo seu desenho, uma criança me pergunta, em voz alta: professor, você trabalha?

pizza

classe de primeiro ano do ensino fundamental de uma escola waldorf. no fim do dia, todas crianças já cansadinhas ouvindo uma história, um conto de fadas. aquele clima de magia na classe, fora o calor infernal de fevereiro. eu me desdobrando para contar a história do príncipe que não tinha medo em seu coração e uma criança percebe: "professor, tem uma rodela de suor debaixo do seu braço".

paulo maluf

estou desenhando na lousa, cada criança concentrada em seu caderno fazendo seu desenho. silêncio lindo dentro da classe, daqueles que todo professor gosta. ouço baixinho um aluno saboreando o som das explosivas e fricativas: "paulo maluf". começo a dar uma gargalhada e a classe me pergunta o que foi. não foi nada, digo. e tudo volta ao normal.

o nome do homem

desde os tempos imemoriais do primário, quando ele ainda era primário, não era fundamental, havia um senhor em frente ao meu colégio que vendia balas e sorvetes. desde sempre ele estava ali, com seu carrinho da yopa, quando ainda havia yopa. todos os dias comprávamos besteiras para ruminar nas aulas e tenho certeza de que nunca niguém o chamou pelo nome. poucos ali sequer davam bom dia. resistiu ao escândalo da van mele, que colocava cocaína nos babaloos, resistiu às ameaças de bomba na escola por duas vezes e resistiu à demolição do prédio do colégio. certos de que a demolição do colégio, para dar lugar a um prédio de luxo, faria com que se esquecesse o nome do tio do sorvete, nunca ninguém se importou realmente em saber seu nome.

ontem eu fui à maternidade, para o nascimento do meu segundo filho. estacionei o carro e coloquei um cartão de zona azul. como os exames estavam demorando, gastei todos meus cartões e precisei comprar mais. entrei na banca de jornais e eles haviam se acabado. no café idem. acho que aquele senhor ali da esquina tem, sugeriu a do café.

carrinho de sorvete, nestlé, colete azul e o mesmo sorriso franco sem nome. aproximei-me, pedi o cartão de zona azul e quase fui embora sem me apresentar. não me reconheceu. a barba. peguei o troco e disse que havia estudado na jacurici por doze anos. para onde ele havia se mudado depois da demolição do prédio? fui para o prédio novo, diz ele, bigodes mais brancos. conta que trabalhava ali antes de o prédio ser do pueri domus, quando ainda era liceu eduardo prado. estava ali desde 1959. agora estava de manhã na nova unidade, na rua itacema, pelas manhãs e à tarde marcava ponto em outro colégio, ali perto da maternidade.

quase me despeço, me viro e pergunto seu nome, sem graça, quase me desculpando pelo colégio todo. ele sorriu um sorriso meio de quem não entendeu, pensou bem e respondeu: medeiros.

pego minha zona azul e saio com gosto de colégio na boca mesmo sem ter comprado chiclete.

questão de gosto

bom gosto é relativo.
mal gosto é absoluto.

inocência e malicia

inocência é o que se descobre quando se perde.
malícia é o que se descobre só quando se ganha.

14/05/2008

anjo exterminador

Contei aos alunos ontem a história da libertação do povo judeu do Egito, com as terríveis pragas. Doenças, rios de sangue, rãs por toda parte, nuvens de moscas, mosquitos, gafanhotos, trevas, úlceras pelos corpos dos egípcios, morte dos rebanhos e finalmente o terrível anjo exterminador, encarregado de matar os primogênitos das famílias dos egípcios. Imagens bastante fortes para os alunos de nove anos e para qualquer um. Hoje fomos fazer os desenhos da história e pedi que eles desenhassem cada um uma praga. Não precisa dizer que a maioria optou pelo anjo da morte. Quando estavam todos quietos desenhando, ouço um comentário: olha só meu anjo exterminador tem um gorrinho! E todos caem na gargalhada. Depois da classe recomposta, ouço outro comentário: olha só, o anjo exterminador do Lucas parece uma fadinha cintilante! Outro estrondo de risadas e todos levantando para ver o meigo anjo da morte do Lucas.