17/08/2008

estimação

estávamos falando sobre animais outro dia. era um dia triste pois o titico, porquinho da índia, havia morrido durante as férias. além de bichos estávamos falando sobre a morte. o dono do titico tinha ido dormir e no dia seguinte não pode mais encontrá-lo. chamava, chamava e nada de ele vir, como de costume. depois de uns dias, o forte cheiro tomou conta da cozinha e a faxineira percebeu o corpo estendido no chão, debaixo da geladeira. funeral em caixa de sapato com direito a cova no jardim foram as últimas exéquias ao querido titico. não deixou filhos, deixou saudades.

enquanto a tristeza de um tomava conta do grupo, alguém teve a idéia de mudar de assunto (mas não muito) e começaram a falar sobre os outro animais de estimação que havia na classe. os tradicionais cachorro e gato têm uma fiel audiência, mas também há crianças que têm cabras, galinhas, patos, peixes e cachorros descomunais como o chico e o binu.

no meio daquele bicharada vira uma criança e pensativa dispara:

-professor, eu não tenho bicho de estimação. pára, pensa mais um pouco e completa:

-só aqueles mosquitinhos do banheiro.

03/08/2008

rezar

sempre rezei antes de dormir. das mais longínquas memórias que consigo resgatar, sempre está presente o ato solene de rezar antes de dormir. bem pequeno, minha mãe falava e eu repetia até que acabei decorando o pai nosso e a ave maria. um de cada antes de dormir, era assim que eu pegava no sono. demorou até eu perceber que não se rezava: "pai nosso, cristais no céu..." .

mas que era bem mais lindo isso era.

02/08/2008

homero

Sempre achei estranha aquela intensa fascinação das crianças do lugar onde moro por Homero. Não importa se chegam cansadas da escola, ou se estão no meio de uma brincadeira. A qualquer hora, páram o que estão fazendo e se lembram dele. Estejam no balanço, andando de skate na pequena ladeira ou jogando bola. Não há idade para gostar de Homero, sejam os mais velhos, sejam os mais novos que ainda têm as mães por perto, Homero é sempre uma presença em suas vidas, no lugar onde moro.
Meu pequeno filho, de dois anos, costuma brincar com as crianças no parquinho. É um pouco cedo para dizer se ele gosta ou não de Homero, mas com certeza ele já ouviu falar de seu nome e sabe de sua fama pela redondeza. Não há criança do bairro que não o conheça e tenha vívidas lembranças do velhinho.
Homero é um senhor de cabelos brancos, que mora no bloco 54 apartamento 13 terceiro andar. A janela de seu quarto fica bem em cima do parquinho. Ele joga balas pela janela de seu quarto para as crianças que brincam lá embaixo.

-Homero, joga um Bis!

O único problema é que ele cisma em fazer truques com o cigarro para os pequenos. Como enfiar o cigarro aceso na orelha. Ou na boca com a brasa para dentro. Por vezes os assusta empurrando a dentadura para fora com a língua.

-Homero, mostra a dentadura! gritam os maiores, quando ele desce.